terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Essa é uma época literalmente emocional, capaz de mexer com a estrutura da maioria das pessoas. Mesmo daquelas que dizem não gostar da data, ou que não crêem no motivo da mesma, ainda aquelas que dizem que tudo é apenas um argumento para fomentar o comércio.
De algum modo, ficamos “mexidos”. Sensibilidade aguçada, emoções desalinhadas. Não há como sair impune de toda essa magia. Não há como não sorrir diante da aflição  do rasgar os papéis que embrulham presentes, das nossas crianças sentadas ao redor da árvore luminosa.
Mas tem algo além dessas coisas materiais, dos presentes, dos comes e bebes. Tem uma emoção palpável rondando.
Trago na lembrança um fato de muitos anos atrás, em um quente e alegre 24 de dezembro, logo após o entardecer. Os preparativos para a ceia todos alinhavados, banhos tomados, sorrisos estampados e uma espera gostosa pelo resto da família. Meu tio lembra que os bares devem fechar mais cedo e me pede para ir comprar cigarros. Convidei meu priminho de 04 anos e saímos, em animada conversa, pelas ruas a busca de um local ainda aberto.
Na volta, passamos por uma praça que havia na esquina. Nela estavam um homem e um menino, provavelmente pai e filho. Alimentando-se de um pão meio dormido, que partiam com as mãos dentro de uma sacola de plástico. Meu priminho então me pergunta porque ali estavam e eu respondo, meio engasgada, que era por não ter uma casinha, uma família e uma ceia gostosa, naquele dia que deveria ser especial a todos.
Voltamos em silêncio. Logo o pego no colo, porque as lágrimas são tão copiosas que o corpinho dele sacode com os soluços. Ao chegar em casa explicamos o porque de chegarmos assim. Os olhares se cruzam, se entendem e começa uma função apressada de preparar um farnel para aquela pequena família.  Era um tal de busca a cesta do café da manhã que um tinha ganho no aniversário, e logo doces, pães, bolo, biscoitos, sanduiches, um pouco de tudo, incluindo latinhas de refrigerante lotavam a cesta. Mas faltava algo. Era o que estava no olhar desse meu pequeno primo. E ele olhava e apontava para o peru deliciosamente enfeitado. Aos risos, uma generosa coxa foi separada e agregada das frutas e fios de ovos que o adornavam.
Meu tio nos coloca no carro e saímos em direção a praça. Qual surpresa ao percebermos que o homem e o menino não estavam mais ali. Novo tremor de lábios, e uma fungadinha silenciosa anunciam novo choro. No olhar do pai para o filho a promessa de encontrar nossos amigos. E saímos em sua busca, rodamos várias ruas...até que um grito alegre avisa que nossa busca havia terminado.  Em um terreno abandonado, improvisado um abrigo, ali estavam o homem e o menino.
Deixamos nosso pequeno descer, arqueando o corpo pelo peso da cesta. Acho que ali ele começava a se sentir o homem que hoje é. Até hoje lembro da voz embargada e baixinha dele dizendo ao menino, pouco mais alto que ele: “Papai Noel passou lá em casa e deixou essa cestinha para vocês.”
Voltou sorrindo para o carro, aos pinotes, como qualquer menininho e sorria. Ainda conseguimos ouvir o pequeno do outro lado da cerca a gritar para o homem: “Papai, olha o que o Papai Noel nos mandou...olha papai...olha”...
Daquele dia em diante, nunca mais duvidei do Papai Noel. Ele existe, ele é vivo. Mora no coração puro de cada criança solidária e enternecida. Mora no coração de cada Pai e cada Mãe que ensinam aos seus filhos a generosidade. Ele mora naquele peru “perneta” e que nunca esteve tão saboroso em nenhuma outra ceia. Ele mora no coração daquele nosso menino, hoje um homem solidário, que vai passar o dia com sua mãe e irmão distribuindo presentes a outros pequenos...
Que esse meu “Papai Noel” amoroso, especial, generoso, que habita em meu coração, abrace a cada um de vocês, calorosamente, repleto de amor fraterno. E que faça que os melhores desejos de cada um, tornem-se realidade.
Feliz Natal 2011.

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